Relato sobrenatural: O Livro negro

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Há alguns anos atrás, na minha adolescência, acabei levando minha curiosidade pelo sobrenatural, que já mantinha desde a infância, mais a fundo.
Passei a estudar e buscar cada vez mais conhecimentos nesta área, a ponto de me tornar obcecado por tudo o que envolvesse o inexplicável.
Estudava e lia com atenção tudo o que me caia nas mãos sobre o assunto e, coincidência ou não, por esta época bem mais de uma pessoa apareceu para me guiar nestes estudos. Eu consegui livros incríveis com estas pessoas, principalmente livros de Madame Blavatsky e Crowley.

Numa das minhas pesquisas num sebo de Porto Alegre acabei encontrando um livro de São Cipriano, o vulgo “Capa Preta”, que foi violentamente ridicularizado por estes meus amigos mais velhos e mais “experientes” no ocultismo. Acabei perdendo o interesse no tal livro, até mesmo por ter lido coisas realmente ridículas e absurdas nele.
Por esta época conheci também um grupo de adolescentes que compartilhava de muitos interesses como os meus, principalmente no quesito música. Comecei a namorar uma das meninas desta galera, e montamos uma banda juntos e a partir de então,  passamos a viver sempre reunidos.
Eu e o baterista, acabamos adquirindo uma amizade muito grande, em partes por que namorávamos duas irmãs. Acabávamos sempre nos encontrando e indo juntos para a casa das meninas. Uma delas, diga-se de passagem, considerávamos sensitiva.
Em partes por influencia da música que ouvíamos, e em parte por influencia minha, o citado rapaz acabou tomando também interesse em assuntos sobrenaturais, principalmente na chamada Mágika e na vida e ensinamentos de Aleister Crowley, que na época, víamos como um líder espiritual.

Um dia, estávamos na minha casa, nos preparando para passar a noite na casa de nossas namoradas e falando sobre magia... Como chacota, acabei mostrando pra ele o livro de São Cipriano, separei um dos trechos mais absurdos e comecei a ler de forma ridícula, como os magos de filmes de terror antigo. Ele rindo, tirou o livro de minha mão e o jogou na mochila para ler mais tarde, pois mesmo achando besteira, tinha curiosidade em conhecer; e saímos.
Como a menina que considerávamos sensitiva era de alguma igreja cristã que não me recordo mais, mesmo sendo roqueira, era completamente contra todo e qualquer tipo de magia. As poucas vezes em que comentamos algo sobre nossos estudos perto dela nos rendeu alguns sermões gigantescos, e, como não queríamos desagradá-la e muito menos ouvir protestos, escondemos o livro em meio as revistas de meu cunhado, onde as meninas nunca mexiam.

Meus ex-sogros nesta oportunidade estavam no litoral, e à pedido de minha própria sogra,  ficamos cuidando da casa e das meninas. Meu sogro me detestava às raias do ódio, mas como eu tinha a proteção da mãe de minha namorada, estávamos nos sentindo os donos da casa, mal tinham eles saído.
Durante a noite assistimos filmes, ouvimos música e mais tarde, fomos deitar. Nem bem havíamos pegado no sono, acordamos com um estrondo contra a porta dos fundos.
Chamei meu cunhado no quarto ao lado que nem ao menos mudou sua respiração pesada enquanto dormia, porém meu amigo e as meninas haviam também acordado com o barulho. O detalhe é que havia um cão da raça Rottweiller num canil de onde podia enxergar o pátio todo, inclusive essa porta, e que não parecia ter notado qualquer coisa diferente, pois continuava em silencio.
Deixamos as garotas nos quartos e fomos os dois conferir a porta, que estava trancada.

Tomamos coragem, juntamos um facão (tipo de faca enorme, como se fosse uma espada, muito típica aqui do sul, usada para abrir caminho em meio ao matagal) e saímos no pátio, temendo algum assaltante. Não havia sinal algum de pessoa pelo pátio, nem na rua.
O cão nem com o nosso movimento perto do canil acordou. Voltamos para dentro, acalmamos as gurias até que dormissem e voltamos para a cozinha, onde ficava a porta dos fundos, para tomar um café e conversar um pouco, pois havíamos perdido o sono.
A porta ficava ao lado da pia, onde estava escorado meu amigo e eu, sentado a mesa podia vê-la tranquilamente, enquanto olhava o que ele fazia.
Não haviam nem cinco minutos de conversa passados, ouvimos outra pancada na porta, tão forte que pude ver a mesma sacudir-se toda. Pulamos de susto e ficamos apavorados com aquilo.
Por incrível que pareça, dessa vez ninguém dentro de casa acordou, o que é algo inacreditável, dado o barulho que a porta de madeira fez. Parecia que alguém chutava a porta a ponto de rachá-la.

Brancos de medo, aos cochichos, e ainda temendo um assalto, decidimos que um de nós empunharia o facão, e o outro abriria a porta, para descobrir o que era.
Quero dizer aqui que nenhum de nós era muito corajoso, e que não estou em momento algum me gabando de termos feito isso. Foi uma irresponsabilidade enorme, cometida por dois adolescentes um tanto burros, no apavoramento do momento.
Estávamos com tanto medo que queríamos mandar o que quer que fosse embora, e como o terreno não tinha um muro muito alto, era bem fácil entrarem bêbados ou viciados no pátio. O bairro não era dos piores, mas havia um albergue para moradores de rua por perto e como era de se esperar, muitos mendigos rondavam o lugar, esperando conseguir comida.
Sendo assim, nossa esperança era encontrar um bêbado qualquer, na pior das hipóteses um “chapado”, como chamávamos os drogados. Na verdade, até aquele momento, acreditávamos que algum dos nossos amigos estivesse nos “sacaneando”, tentando nos assustar, por saberem que estávamos sozinhos em casa.

Esperamos alguns minutos, aguardando mais algum movimento ou barulho, eu diante da porta, tremendo de nervosismo, segurando aquele facão, e o meu amigo, pronto para abrir a porta a qualquer momento.
Do nada, “alguém” começa a mexer a maçaneta pelo lado de fora, como que tentando abrir, mas sem empurrar a porta, que já estava aberta. No momento em que a maçaneta parou, o rapaz que estava comigo escancarou a porta e, para nossa surpresa, não havia absolutamente NADA do outro lado.
Saímos os dois novamente para a rua, confusos, andamos pelo pátio todo, olhamos em baixo da casa e em cada canto do terreno, até em cima das árvores e nem sinal de outra presença além da nossa.
Não teria dado tempo de o que quer que fosse fugir, pois não passaram mais que segundos entre parar a maçaneta de se mexer e abrirmos a porta, e em todo esse tempo, o cachorro sequer mudou de lugar no canil, parecia morto dentro da casinha.
Não estávamos bêbados, nem sonhando, não usávamos drogas e nem tínhamos visto algum filme que deixasse nossa imaginação fértil.

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Entramos novamente perturbados pra dentro, e mal havíamos fechado a porta, a menina que acredito até hoje ser sensitiva, acordou chorando no quarto, mandando tirar de dentro de casa o mais rápido possível o livro preto que escondemos em algum lugar.
Ficamos pasmos e ainda mais confusos. Enquanto meu amigo foi buscar o livro no quarto, ela contou que sonhou que uma névoa negra estava envolvendo a casa, por causa de um livro ruim que tínhamos colocado lá dentro sem permissão, como se fosse uma energia negativa, e estava atraindo demônios para perturbar a paz do lugar (ela era cristã, repito, e não acreditava em espíritos, fantasmas e coisas parecidas...) e desandou a chorar de novo.
Jogamos o livro numa sacola e colocamos na rua, até amanhecer, quando pretendia levar de volta pra casa, pois achava que ela nos tinha visto esconder e estava inventando uma lorota qualquer pra me fazer jogá-lo fora. O problema é que mais tarde, recapitulando tudo, lembramos que na hora em que o escondemos,  as meninas estavam na padaria, comprando coisas para o café, e meu cunhado estava pregado na frente do vídeo game, justamente por isso resolvemos esconder o livro naquela hora em que ninguém poderia ver.

Durante toda a noite, mesmo com os barulhos que ouvimos e fizemos, meu cunhado não acordou nem viu nada, assim como o cachorro que normalmente, a qualquer barulho, começava a latir.
Até hoje acho que nenhum de nós descobriu o que foi aquilo. Passamos uma semana ouvindo sermões da menina, e o livro nem sei onde foi parar, não lembro o que fizemos dele, acho mesmo que acabou indo pro lixo, porque não lembrei de busca-lo mais tarde.
Acabei com o tempo me afastando destes estudos e práticas e também daquelas pessoas. Obviamente continuo sendo extremamente interessado pelo sobrenatural, mas não daquela forma obcecada como eu era.
E o tempo, apesar de tudo o que presenciei, tratou de me tornar um cético teimoso. Aconteceram ainda muitas outras coisas naquela casa, em diferentes oportunidades, muitas pessoas dizem que era porque estudávamos magia e espiritualismo e tentávamos praticar o que aprendíamos.
Outros dizem que eram fenômenos psicológicos, sugestão mental, etc. Eu mesmo não tenho nenhuma teoria muito convincente formada, e embora não acredite em muita coisa, classifico esta experiência como sobrenatural, dentro do que entendo como.


Relato de Diego Schirmer, Porto Alegre - RS


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