Entidades sobrenaturais

O Arlequim

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O Arlequim é um personagem teatral que foi disseminado no Brasil principalmente através dos blocos carnavalescos de rua. O carnaval nordestino principalmente na Bahia e Pernambuco, soube transferir o fenótipo típico do bobo-da-corte para o artista brasileiro, malandro brincalhão. Mas longe de ser apenas uma figura fictícia para entreter as pessoas, o Arlequim possivelmente pode ser uma entidade a qual fez suas aparições macabras diversas vezes ao longo da história. O que seria ele? Um brincalhão, uma entidade sobrenatural, um demônio ou apenas loucura? Confira a história real de Dan Mitchell, um norte-americano o qual supostamente é atormentado desde a sua infância pelo Arlequim.

Ele só visitava à noite. Enquanto Dan Mitchell, então com 5 anos de idade, estava em sua cama, no sul de Wisconsin, EUA, e seus pais no andar de baixo; uma criatura magra, andrógina, com grandes olhos bem abertos, apareceu trazendo consigo um cheiro úmido, fresco, como chuva de verão. A entidade andou ao redor do quarto de Mitchell contando-lhe histórias através de dança, teatro, e às vezes por meio de sua boca enorme que permanecia sempre aberta.

"Seu rosto parecia que estava em um estado perpétuo de choque", Mitchell, agora com 35 anos, casado e com filhos, disse. "Eu queria contar à minha mãe sobre isso, mas ela sempre achou que era apenas minha imaginação fértil." Mas era real. Com sua aparência heterogênea, estranha, a entidade parecia "como um arlequim", mas identificava-se como a Fada dos Dentes. "Por alguma razão eu nunca tinha medo dele", disse Mitchell. "Meu sentimento geral em relação a esse ser, era de familiaridade total. Olhando para trás agora, eu também posso dizer que havia algo muito forte sobre esta entidade, como uma força de presença."
O que é essa coisa que visitava o jovem Dan Mitchell durante a noite, essa coisa que ainda o visita? Agora isso relega-se para a periferia da vida de Mitchell, arrastando-se ao longo das bordas da realidade, surgindo vez ou outra apenas para que Mitchell saiba que ainda está por aí - observando-o.


O Arlequim
O personagem Arlequim que assemelha-se a um palhaço, remonta à 1300, Europa, aparecendo em "Inferno" de Dante como um dos demônios do inferno, e em grande parte do teatro europeu. O Arlequim é tradicionalmente ágil fisicamente e ao mesmo tempo um guloso e insípido. Mas este personagem teatral é baseado em algo antigo e real. Brad Steiger, autor de "Real Monsters, Gruesome Critters, and Beasts from the Darkside", disse que essa entidade que visitou o quarto de Mitchell, já visitou inúmeras crianças através de incontáveis séculos. Steiger citou um poema escrito em 1782 por Johann Wolfgang von Goethe, intitulado O Erlkönig. "(Ele é) o raptor sobrenatural de crianças", disse Steiger. "Estamos falando de 1.600 anos, ou algo assim, e o Arlequim está voltando. Este é apenas um nome para todas as outras entidades de que falamos há tanto tempo."


O jantar da família
O jovem Mitchell sabia que sua família nunca viu o Arlequim, nem acreditavam que ele viu. "Eu sei que isso parece loucura, mas eu lhe asseguro que eu me lembro dessas ocasiões estranhas quase tão bem como eu me lembro dos eventos normais da minha infância", disse ele.
Em uma noite na primavera de 1981, quando a família Mitchell sentou-se para jantar. "Eu me lembro que o meu pai estava muito agitado", disse Mitchell. "Ele ficava dizendo que ele estava ouvindo alguém andando no  andar de cima. Eu estava aterrorizado com isso, porque meu pai estava tão agitado e eu nunca tinha visto ele com medo assim. Ele era um cara muito duro. "Então o pai de Mitchell disparou da mesa de jantar, com uma expressão de terror em seu rosto. "Imediatamente houve uma voz que ele ouviu vindo do andar de cima", disse Mitchell. "Apesar de me parecer que soou como uma risada sinistra e aterrorizante, eu creio que foi apenas um grito de algum tipo que causou uma sensação de calafrios na espinha."
Então seu pai riu, o olhar de terror ainda permanecia em sua face. "Ele ficou congelado com aquele olhar terrível em seu rosto", disse ele. "Todo mundo na mesa estava congelado. A próxima coisa que me lembro é  de acordar na mesa de jantar com o leite todo derramado sobre mim mesmo e pela mesa." Sua família simplesmente voltou a comer o jantar, o riso foi aparentemente esquecido. "Esta situação foi tão traumática para minha jovem mente que eu honestamente acredito que eu tenha apagado uma grande parte deste evento", disse Mitchell. "Eu sempre pensei que o que quer que seja que foi me visitar no meu quarto à noite, foi essa "pessoa" que estava andando no andar de cima da nossa casa, possivelmente procurando por mim ou se perguntando por onde eu teria ido."
Mitchell mencionou recentemente o evento do jantar para seu pai. "Meu pai ficou branco como se ele pensasse que havia sido um pesadelo que ele teve", disse ele. "Ele realmente foi inflexível sobre não falar sobre o assunto mesmo quando eu continuei a persegui-lo." Mas Mitchell descobriu mais tarde que sua família sabia sobre esse visitante o tempo todo.


Algo maligno
Uma das primeiras reações a uma entidade humanoide que entra sorrateiramente no quarto de uma criança à noite é que seus objetivos são sinistros. "Não há dúvida sobre isso", 'Anonymous', escreveu em um post sobre o Arlequim em um fórum sobrenatural: "Este é um demônio, ou melhor, um anjo caído disfarçado. Ele sabe o que te assusta e está assombrando você. "
O pastor Robin Swope, da Igreja Unida de São Paulo de Cristo em Erie, Pensilvânia, concorda que a entidade é, provavelmente, um espírito demoníaco. "A coisa principal é o medo que tomou conta da família em sua infância e a reação geral que ele tem quando ele aparece", disse Swope. "O rosto, olhar incomum e movimento do ser, tende a me fazer acreditar que ele se manifesta para causar o medo na família e nele em particular." Entidades como esta, Swope disse, costumam ficar em torno da família por um longo tempo. "Seria interessante que o homem falasse com seu pai, se possível e descobrir se ele ou qualquer outro na família teve ou está tendo encontros semelhantes", disse Swope. "Talvez tenha ocorrido há mais tempo do que o que ele tem experimentado. Poderia ser geracional, ou um familiar (espírito companheiro de bruxa) que foi amarrado a alguém em sua ascendência que esteve associado com bruxaria ou mediunidade. "
Mesmo que o pai de Mitchell não admita que ocorreu nada de estranho em torno da casa em que ele cresceu, sua mãe sim.


A família de Mitchell
Embora Mitchell não tivesse medo do estranho ser esguio visitando-o no meio da noite, ele aterrorizou outra pessoa na casa. "Minha mãe estava tendo um pesadelo recorrente que a assustou muito", disse Mitchell. "Ela me disse que estava convencida de que tal fato tenha ocorrido." No pesadelo, uma batida na porta da frente acorda a mãe de Mitchell durante a noite. No seu "sonho" ela se recusa a descer para abrir a porta, porque ela sabia que um homem vestido como uma mulher estava nos degraus da frente batendo na porta, esperando por ela. Mitchell está convencido de que o sonho de sua mãe está ligado a suas visitas. "Eu sempre associado o seu sonho com esses encontros porque o ser era andrógino", disse ele. "Todos os envolvidos tem tido dificuldades para descobrir exatamente o que estávamos lidando com relação ao sexo da figura."
Tentando puxar mais informações a partir de sua mãe e irmãos, Mitchell encontrou uma série de estranhos acontecimentos em torno de sua família durante a década de 1980. "Até agora um dos meus irmãos não tem nenhuma lembrança de alguma coisa estranha acontecendo na primeira casa, mas ele tem uma memória realmente assustadora da casa que nos mudamos depois daquela", disse Mitchell. Seu irmão se lembra que ele e Mitchell estavam andando de bicicleta perto de sua casa quando um "homem em uma bicicleta estranha", começou a persegui-los. "Ele descreveu a bicicleta como sendo muito grande, como um veículo de três rodas, alguma coisa que você veria em um circo", disse Mitchell. "E o que é assustador sobre isso é que eu tenho uma memória semelhante, mas eu sempre pensei que fosse um sonho. Ele se lembra bem isso, porque ele estava com medo de que o cara me alcançasse, porque eu tinha ficado muito atrás dele."

Outros acontecimentos foram um pouco menos parecidos com um sonho. Durante final de 1970-início de 1980, a mãe de Mitchell começou a ter experiências estranhas na casa. "Ela tem todas essas lembranças incrivelmente bizarras sobre pessoas na casa, seja em cima ou no porão, ou pessoas de aparência estranha andando na garagem à noite", disse Mitchell. "É muito estranho ouvi-la falar sobre isso, porque ela é rápida em equacionar essas lembranças com assaltantes tentando roubar as coisas de nossa casa, embora a nossa casa nunca fora invadida."
O porão da casa Mitchell, um polish-flat, "que são comuns na área de Milwaukee," foi um pequeno apartamento e só podia ser acessado através de uma porta exterior. "Meus pais lembram que em duas ocasiões a polícia foi chamada até o local, porque minha mãe ouviu pessoas andando lá embaixo", disse Mitchell. Seu pai era dono de um posto de gasolina na rua abaixo e muitas vezes trabalhava no turno da noite, deixando a mãe de Mitchell e os filhos em casa sozinhos. Cada vez que a mãe de Mitchell chamava a polícia, ela encontrava o porão vazio. "Meu pai me disse que a polícia pensou que ela era louca, porque nenhuma das janelas foram arrombadas, e a porta ainda estava trancada", disse Mitchell. "Ele disse que em um par de ocasiões, ele, pessoalmente, foi até lá, com a arma na mão, porque ele ouviu um tumulto alto. Mas não havia qualquer coisa ali. "Em um determinado momento, o pai de Mitchell disse a sua mãe que se ele fosse ao trabalho e ela ouvisse barulhos no porão ou na garagem, que o chamasse que ele iria voltar para casa para olhar por si mesmo. Então ela ouviu algo de novo. "Ela disse que colocou o ouvido no chão e ouviu alguém andando e brincando", disse Mitchell. "Ela disse que tinha certeza de que ela viu sombras de pessoas que se moviam na garagem. Ela não podia entrar em contato com o meu pai e estava com muito medo de chamar a polícia, temendo que iriam prendê-la por ser louca."
Estes incidentes assombram a mãe de Mitchell, enchendo sua vida de medo. "Eu acho que a sua ideia de que um travesti venha para a sua porta no final da noite é demais para ela lidar", disse Mitchell. "Ela parecia apavorada com a coisa toda. Toda essa estranheza parece ter terminado para ela quando nos mudamos daquela casa, alguns anos mais tarde."
Mitchell cresceu em uma família cristã devota e pensa que as crenças religiosas de seus pais podem desempenhar um papel no silêncio de seu pai. "Meu pai não vai falar sobre isso, embora a minha esposa, irmão, e eu, saibamos que ele sabe mais do que ele está disposto a falar", disse Mitchell. Seu pai cresceu na mesma casa, e Mitchell cogita, como Swope apontou, se os encontros com o Arlequim não seriam um assunto de família. "O que quer que ele saiba, eu posso te dizer com certeza que ele se lembra do encontro da cozinha como se fosse ontem. Não é uma dúvida em minha mente ", disse Mitchell. "Eu sou o único dos meus irmãos que tem filhos, então talvez seja por isso que ele continua a me perseguir."

Mitchell sabe que seu pai viu o Arlequim pelo menos uma vez — eles estavam juntos quando aconteceu. Quando Mitchell cresceu, as visitas da entidade a seu quarto cessaram, mas ele sabia que o Arlequim não o tinha deixado. Em 1991, Mitchell, então com 15 anos, e seu pai, estavam dirigindo da cabana da família nas florestas do norte de Wisconsin até a cidade vizinha de Eagle River quando se depararam com alguém na estrada. "Havia esta colina íngreme em nosso caminho para a cidade", disse Mitchell. "Às vezes, quando estávamos dirigindo, meu pai apagava os faróis em seu caminhão enquanto descíamos esta colina. Nós estávamos em nosso caminho para a cidade uma noite, quando ele fez isso."
 O pai de Mitchell pensou melhor e acendeu os faróis, então eles viram alguém andando no morro. "Quando chegamos ao topo da colina no caminhão, esse cara estava andando na estrada de cascalho, empurrando um carrinho de bebê", disse Mitchell. "Era provavelmente 09:30 da noite, escuro como breu, quem iria empurrar um carrinho de criança na completa escuridão?" Quando o pai de Mitchell passou pela figura, Mitchell sabia que algo estava errado. "Eu poderia dizer que esse cara estava escondendo seu rosto", disse ele. "Havia algo errado sobre isso." Quando a figura desapareceu encobrida pela distância e trevas, Mitchell podia sentir que tinha acabado de passar pelo Arlequim. "Meu pai parecia um pouco incomodado com isso também", disse Mitchell. "Mas ele não disse nada, provavelmente, para me manter calmo. Eu realmente não estava querendo voltar para a casa por causa disso."


Um deus ancião?
Muitas culturas antigas, como a Hopi e Nórdica, contam sobre entidades que se assemelham ao Arlequim
Boneco representando Maasaw
de Mitchell na aparência e no comportamento. Jack Lankhorst da Restoration, uma organização concebida para ajudar o povo Hopi, viu esta entidade. "Tendo trabalhado com tradições nativo-americanas, eu encontrei algumas coisas interessantes", disse ele. "Os Hopi acreditam em uma divindade chamada Maasaw que os acolheu nesta terra em que hoje é a Old Oraibi." Os Hopi consideram Maasaw um deus todo-poderoso da terra responsável pela superfície da terra e pela morte, a descrição de Maasaw é semelhante ao Arlequim de Mitchell. "Seu rosto tem dois grandes olhos redondos e uma grande boca com dentes", disse Lankhorst. "Depois de explicar aos amigos Hopi que eu encontrei em duas ocasiões diferentes, eles enfaticamente afirmaram que era Maasaw. No entanto, eu não estou afirmando que isso é que Mitchell encontrou."

Loki
O Arlequim também lembra o brincalhão Loki da mitologia nórdica. O rabino exorcista Barry Albin, de Kansas City, Missouri, encontrou entidades como Loki em seu trabalho e, embora ele não acredite que o Arlequim seja Loki, ele acredita que seja algo similar. "Nos últimos anos, tenho encontrado várias entidades que são por falta de um nome melhor 'deuses'", disse Albin. "Eles são os deuses da antiguidade, aqueles que os hebraicos e Bíblias cristãs chamam de demônios. Na realidade, eu estou cada vez mais convencido de que essas entidades são elementais. "Esses elementais são quase imortais e muito mais poderosos do que os humanos. "Eles podem fazer coisas que parecem mágica para os seres humanos", disse Albin. "Na minha experiência com as três entidades com que eu lidei, estou ciente de que eles são orgulhosos, arrogantes, angustiados com a falta de respeito dos seres humanos e também amorais." Mas, Albin disse, estes "deuses" também têm imitadores. "Não é apenas um Júpiter, Jove, Odin, etc; mas muitos, para cada um do panteão", disse ele. "O deus brincalhão de alguns povos da América não é diferente do Loki dos noruegueses ou dos deuses semelhantes de tribos indígenas africanas.", Albin disse que Mitchell provavelmente atraiu a atenção de um dos imitadores de Loki. "Loki muitas vezes aparece vestido como um arlequim ou um bobo da corte", disse Albin. "Bobos da corte vestem  roupas multicoloridas e se assemelham a um palhaço. Isso parece se encaixar bem na descrição."
Como Swope, Albin disse que os encontros podem estar conectados à família de Mitchell e, como Mitchell,  Albin pensa que o pai de Mitchell também encontrou o Arlequim. "Não é surpresa que as famílias encubram coisas sobre as quais elas não queiram falar", disse ele. "Há muitas coisas que estão ocultas nas famílias."


O encontro no carro
Mitchell não viu o Arlequim novamente até 1994. "Dirigi até este mesmo ser anos depois", disse ele. "Eu estava dirigindo com alguns amigos tarde da noite em nosso caminho para casa, vindo de uma festa." Os jovens viram uma adolescente andando na rua em frente ao carro, seus movimentos eram estranhos e irregulares. "Nós pensamos que talvez ela estivesse bêbada", disse Mitchell. "Alguém no carro pensou que fosse uma amiga deles que nós estávamos indo buscar para dar-lhe uma carona até sua casa." À medida que  diminui a velocidade para me aproximar, a garota começou a andar em direção ao carro. Quando chegou a mais ou menos 9 metros, Mitchell percebeu que a pessoa estava usando uma peruca mal-feita. "Minha primeira impressão foi de que era um homem vestido de mulher", disse ele. "Ela parecia incrivelmente irritada e foi fazendo movimentos mais estranhos ainda que eram quase ameaçadores."
Um dos amigos de Mitchell sussurrou com medo. "Oh, meu Deus", disse o garoto. "Olhe para os olhos." Mitchell conhecia aqueles olhos excessivamente grandes e redondos — eles eram os olhos do Arlequim. "O cara que estava na carona molhou as calças durante o encontro", disse Mitchell. "Meu pensamento inicial era de que ele fez isso porque estava terrivelmente bêbado, mas eu me lembro que ele estava completamente sóbrio no momento em que entrou no carro naquela noite. Na verdade foi uma reação extrema a essa pessoa de aparência estranha fora do carro." Alguém no carro disse: "pisa fundo", e Mitchell obedeceu, mas o carro não se moveu. "O carro morreu e basicamente pulamos para fora rapidamente para empurrar," disse ele. "A próxima coisa que todo mundo se lembra é de estar há um quilômetro da rua (dentro do carro) perguntando como nós fizemos isso tão rapidamente." Todo mundo estava apavorado. "Houve pânico no carro", disse ele. "Eu posso dizer-lhe que todo cara que eu levei embora aquela noite, quando saiu do carro, correu rapidamente para a porta de casa. Eu, infelizmente, tive que dirigir de volta dessa maneira, mas felizmente não vi a figura novamente."
Ele está convencido de que a coisa que ele e seus amigos viram naquela noite era o Arlequim. "Eu dei uma boa olhada nela e posso dizer-lhe que era óbvio que ela estava tentando se disfarçar", disse ele. "Era a mesma cara de choque perpétuo, mas desta vez me aterrorizou completamente. Eu tinha a sensação de que ela estava gritando comigo por algum motivo. Minha impressão honesta naquela noite foi que essa pessoa estava morta ou simplesmente não era humana."


O brincalhão
O personagem Brincalhão aparece em diversas culturas em todo o mundo. Embora o Brincalhão seja muitas vezes descrito como um animal - o porco no Japão, na Inglaterra a raposa e o coiote para os índios americanos — o Brincalhão também pode aparecer como um palhaço. O Brincalhão é geralmente egoísta, glutão, lascivo, e amoral. Ele também quebra as regras da natureza ou dos deuses, e até mesmo muda de sexo à vontade. O falecido John Keel, autor e pesquisador paranormal, aplicou o rótulo de Brincalhão às entidades comuns nos encontros de OVNIs.

A autora e pesquisadora paranormal Patricia Ress, pode ter encontrado um desses Brincalhões aparecendo como o Arlequim, enquanto ela estava na faculdade. "Eu estava na Universidade de Iowa, em Iowa City e era um lindo dia de primavera", disse ela. "Minha filha e eu estávamos andando pela colina e quando passamos por uma determinada área, tudo parecia um pouco deserto." Mas elas logo descobriram que não estavam sozinhas. "Uma figura pequena, que eu de alguma forma sabia que era do sexo feminino, veio até nós e se comportou como um mímico", disse ela. A figura mímica encantou a filha de três anos de Ress e deu-lhe um doce. "Eu presumi que o Arlequim fosse uma das minhas amigas no departamento de artes dramáticas, provavelmente recuperando o atraso em sua prática mímica", disse Ress. "Mas, assim que nós continuamos, quando olhei para trás "ela" tinha desaparecido."

Laurie Smithmeyer de Topeka, Kansas, experimentou algo similar. Smithmeyer e uma amiga visitavam as proximidades de Lawrence (casa da Universidade do Kansas) para almoçar e fazer compras no início de 2000. "Nós duas gostamos de arte e todos os tipos de eventos culturais, por isso era comum para nós passear, almoçar e fazer compras", disse ela. Elas comeram no Free State Brewery, e caminharam direção sul na Massachusetts Street, desfrutando o dia de final da primavera.
Então elas viram a mulher. "Nós estávamos aproximadamente na frente de um antigo banco que havia sido transformado em um restaurante chamado Teller, quando nós a vimos", disse Smithmeyer. A pessoa "parecia ser uma figura feminina", disse ela. O indivíduo usava uma saia curta de babados, semelhante a um tutu de balé, e um colete que parecia um bustiê de veludo vermelho, roxo e preto. A figura usava luvas longas e calças; seu cabelo, um despenteado, emaranhado escuro. "Sua roupa era estranhamente teatral e me fez lembrar de carnaval ou circo, de alguma maneira", disse Smithmeyer. "Lembro-me de olhos escuros que poderiam ser maquiagem ou algo assim. Eu não dei uma boa olhada em seu rosto, foi apenas um vislumbre do lado."
A figura foi em direção a um banco do parque que estava do lado oposto à calçada da entrada do restaurante Teller. "À medida que passamos por ela na calçada, eu tive a impressão de que ela estava indo sentar-se no banco e nós continuamos andando", disse Smithmeyer. "Quando chegamos ao meio-fio para atravessar a rua, nós duas nos entreolhamos e dissemos: 'Uau, você viu essa menina?" As duas, viraram-se para olhar para ela, mas ela havia desaparecido no ar. "Não estava no banco, nem na calçada e nem na rua", disse Smithmeyer. "Ela simplesmente desapareceu. No tempo de nós darmos três ou quatro passos, em um dia ensolarado brilhante e claro, ela havia desaparecido. Não apenas do banco, mas de toda a área." Apenas algumas pessoas vagavam pelas ruas, para Smithmeyer é certo que a figura não poderia ter se perdido no meio da multidão. "A rua é plana, sem mudanças na elevação ou terreno. o que tornaria difícil de vê-la", disse Smithmeyer. "Ela não estava em ambos os lados da rua. Pelo que pude ver, ela tinha desaparecido."
As mulheres se olharam e disseram: "Fae", que significa elfo. "Essa foi a impressão que tiveram", disse Smithmeyer. "Ambas estudamos mitos e folclore, e estão familiarizadas com histórias sobre Sidhe (elfos da Irlanda) e que foi basicamente o sentimento que tivemos sobre essa figura; irreal e muito estranho." Smithmeyer, que leu as histórias dos encontros de Dan Mitchell com o Arlequim em From the Shadows, acredita que ela e sua amiga viram o Arlequim. "Poderia essa ter sido uma aparição do Arlequim?", ela perguntou. "Lembro-me a impressão que eu tive de que a figura não era inteiramente humana. Ela... era tão bizarra, assustadora e etérea, ao mesmo tempo. É realmente difícil de descrever. O mais próximo que vem à mente é uma fada."
Smithmeyer disse que está familiarizada com as culturas alternativas e esta entidade não pertencia à esse caso. "Isso era muito além de qualquer coisa que um mero costume poderia ser", disse ela. "Eu tenho visto pessoas góticas, artistas de rua, e todos os tipos de atores, e eu estou muito familiarizada com essa subcultura, assim como a amiga que estava comigo. Havia uma qualidade sobrenatural sobre ela que é difícil de descrever."


O Arlequim na porta
Mitchell e sua família moraram com a sua sogra em um subúrbio de Milwaukee em 2009, a poucos quarteirões da casa onde ele cresceu — a casa onde ele experienciou pela primeira vez a visita do Arlequim.  Quando eles se mudaram, ele descobriu que o Arlequim o aguardava. "Eu estava ajudando minha sogra a limpar seu porão e organizar algumas coisas", disse ele. "Eu acordei bem cedo para conseguir uma vantagem, antes de todo mundo começar a acordar."
Mitchell começou a trabalhar no porão por volta de 6h30, quando ouviu um barulho vindo do topo da escada. "Nos primeiros 10 minutos após descer para organizar, eu continuava a ouvir um barulho de batida vindo do andar de cima, na porta dos fundos", disse Mitchell. "Parecia que alguém estava batendo na janelinha da porta dos fundos." No início, ele pensou que o vento estivesse fazendo o som, até que ele ficou mais alto. "Quase imediatamente o barulho foi de uma batida leve para algumas pancadas rápidas sobre a porta, que cessaram abruptamente", disse Mitchell. "Parecia que alguém estava batendo desesperadamente. Eu estava realmente muito assustado com isso."
Mitchell pegou um pedaço de cano para se proteger e lentamente subiu os degraus. "Eu cheguei ao topo da escada e percebi que quem estava batendo na porta estava se afastando em direção ao beco", disse ele. "Só pude ver essa pessoa pelas costas e meu coração quase paralisou. Eu soube imediatamente para o que eu estava olhando." Era o Arlequim. A entidade saiu da porta como um ator de teatro meia-boca. Ele usava uma peruca loira, um gorro preto e calças avermelhadas enroladas até os joelhos, revelando uma pele anormalmente pálida. Ele também usava mocassins sem meias e um casaco de inverno com babados costuradas nele. "Por um breve segundo, eu pensei que talvez fosse uma pessoa sem-teto, mas não havia como", disse ele. "Estas coisas denunciam que não são humanas apenas pela sua presença. Eu não posso descrever como é; você simplesmente não pode confundi-lo quando o vê."
A coisa esguia, assexuada, caminhava para o fim da calçada que atravessava o quintal e desapareceu atrás da garagem. "Eu senti que fiquei pálido instantaneamente", disse Mitchell. "Quando ele virou a esquina para ir atrás de nossa garagem, tive um vislumbre muito rápido dos olhos, as órbitas eram gigantescas e o rosto era inexpressivo, quase como uma máscara. A boca fina era desproporcional para o rosto."
As batidas na porta acordaram a esposa de Mitchell, e ela correu lá embaixo preocupada se marido tinha tropeçado na escada. Ela encontrou o marido olhando pela janela da porta de trás. A voz de Mitchell tremeu quando ele contou à ela o que tinha visto.

***

A descrição do Arlequim — o formato do rosto, olhos, boca e corpo magro, andrógino — são semelhantes aos relatórios do tradicional alien "grey". O vereador Adrian Hicks de Winchester, Hampshire, Inglaterra, viu o Arlequim em fevereiro de 2004 e está convencido de que a entidade seja extraterrestre. Hicks desceu a High Street às 13:30 em um sábado, quando viu uma menina loira em um vestido de balé branco, mas o que destacava a menina do resto da multidão era seu modo de andar. Hicks descreveu a mulher como um "humanoide" que andava "como um pinguim", e estava mostrando grande interesse em objetos do cotidiano, como um simples relógio. "Definitivamente um alien", disse Hicks. "Eu a vi por uns bons oito minutos ou mais."
 Embora a rua estivesse cheia naquele dia de inverno e Hicks relatou que alguém tirou fotos dela, ninguém mais veio adiante para dizer que viu a menina no traje de balé, Andrew Napier, repórter-chefe do Hampshire Chronicle, disse. Napier foi a primeira pessoa a entrevistar Hicks sobre seu encontro. "Apesar de muita publicidade nos jornais locais e sites, ninguém se apresentou para corroborar o que o Sr. Hicks disse que viu", disse Napier.
No entanto, o desenho feito da entidade que Hicks viu, deixou uma impressão em Mitchell. "A semelhança em seu desenho era a cara do que temos aqui, o colar era idêntico", disse Mitchell. "Eu me lembro que ele disse que alguém tirou fotos dessa coisa. Eu pagaria para ver elas, eu realmente pagaria. Esperemos que alguém saiba de alguma coisa ou tenha uma história semelhante à tudo isso. O tempo dirá. Vou carregar minha câmera comigo onde quer que eu vá."

Hilary Porter do BEAMS, British Earth and Aerial Mysteries Society (Sociedade Britânica de Mistérios
Terrestres e Aéreos), disse que está convencida de que Hicks viu um extraterrestre. "Eu sinto que este é um encontro real e que ele é uma pessoa honesta e sincera", disse Porter. "Deve ter tido coragem de ir a público com isso, mesmo que os outros viram, também". Porter vive cerca de 30 quilômetros do local do encontro de Hicks, e a área está repleta de ocorrências paranormais. "É um lugar antigo com túmulos pré-históricos", disse ela. "Houve casos de OVNIs e atividade alienígena em Winchester ao longo dos anos."

Karen Totten, que cresceu perto de St. Louis, Missouri, também viu uma entidade parecida com o Arlequim na década de 1970 e, como Hicks, ela tem certeza de que não era deste mundo. "Eu tinha 17 anos. Eu estava trabalhando em uma pequena loja de conveniência, quando uma mulher entrou para comprar cigarros", disse ela. "No começo eu não prestei atenção nela até que eu vi a mão dela quando ela me entregou o dinheiro." A mulher era pequena, cerca de um metro e meio de altura e magra. Mas sua mão era fina e comprida, branca, não era como uma mão humana. Assustada, Totten olhou para cima e viu uma entidade humanoide pálida vestindo uma capa preta com a gola levantada para cobrir o pescoço dela. A peruca longa da entidade tapava os ouvidos e a parte de cima de seu rosto, e ela usava grandes óculos de sol "Jackie O". "Isso não escondia inteiramente o seu estranho rosto", disse Totten. "Ela tinha um queixo muito pontudo, lábios e nariz escassos. Ela não falou."
A entidade levou os cigarros que tinha pago e partiu. "Eu estava meio atordoada", afirmou Totten. "A cabeça dela não era muito grande em comparação com o seu corpo, mas outros detalhes, como sua mão e suas características faciais, não eram como as de um humano."


O Arlequim atrás da porta
Quando Dan Mitchell e sua esposa se mudaram de sua casa de três quartos no sul de Wisconsin, eles mantiveram contato com seus vizinhos. Em 2010, quando a esposa de Mitchell ligou para anunciar que estavam se mudando de volta para a casa no início de março, ela encontrou alguém que estava procurando por eles. "A mulher que morava lá com o marido, ela disse que ela e seu marido estavam assistindo a um filme (5 de fevereiro)", disse Mitchell. "Ela tinha posto uma pizza no forno e quando o cronômetro disparou, ela foi até a cozinha para tirá-la." Alguém estava esperando por ela. "Assim que ela chega à cozinha, ela ficou horrorizada ao ver uma estranha mulher de pé na cozinha", disse Mitchell. "Ela disse que sabia que tinha ouvido alguma coisa, mas pensou que eram os gatos. Não ouviu barulho da porta abrir." A Vizinha de Mitchell disse que a mulher na cozinha parecia que estava usando um disfarce. Cabelo loiro, óculos de sol grandes, "e, em geral ela apenas tinha uma aparência estranha." Ela também segurava uma chave. "Ela disse algo como, 'Eu tenho essa chave para a casa ao lado (a casa de Mitchell). Eu tentei, mas não deu certo. Eu tenho a chave errada porque ela abre a sua porta'", disse Mitchell.
O casal exigiu que a mulher saísse, e ela o fez. "Eles trancaram a porta atrás dela e começaram a correr para as janelas para ver se ela entrava em um carro", disse Mitchell. "Eles queriam anotar a placa para avisar à polícia." Mas não havia nenhum carro, e a mulher parecia ter desaparecido. "Eles chamaram o proprietário e ele saiu para mudar as fechaduras no dia seguinte", disse Mitchell. "O senhorio disse que nunca deu a qualquer pessoa as chaves das casas e não tem ideia de como isso poderia ter acontecido." O encontro abalou a vizinha de Mitchell. "Ela me disse que não consegue dormir à noite e quer comprar um cachorro grande para ter em casa, depois do que aconteceu", disse Mitchell. Mitchell está convencido de que esta mulher tentando entrar em sua casa era a entidade assexuada, de olhos grandes que assolou sua vida. "Eu estou começando a suspeitar que talvez eu esteja sendo perseguido", disse ele. "Eu não posso dizer que haja algo malévolo acontecendo por aqui, mas há algo estranho e perturbador."


É geracional
O Arlequim não terminou com Dan Mitchell; está ligado à Mitchell agora através de seus filhos.
"Enquanto estávamos tomando café da manhã, o meu filho que acaba de completar quatro anos disse: 'Um cara veio no meu quarto ontem à noite e ficou na minha cabeça'", disse Mitchell. "Meu coração disparou e eu não posso saber com certeza que isso significa alguma coisa. Meu filho também mencionou sobre alguém que saiu das paredes e ficou brincando com seu travesseiro. "Embora às vezes seja difícil de interpretar as palavras de uma criança, algo sobre as descrições de seus filhos soava muito familiar. "Em relação à minha filha, do jeito que ela disse, me fez lembrar de quando eu era criança contando à minha mãe essas coisas", disse ele. "Toda essa coisa de 'na minha cabeça' realmente era uma reminiscência da comunicação intuitiva que tive com essa coisa."
Vinte e oito anos depois de seus encontros começarem, Mitchell ainda está tentando descobrir o que esta entidade é. "Meu pensamento é que o que quer quer essa coisa seja, ela tenta se encaixar, mas não parece conseguir entender as coisas", disse Mitchell. "Em outras palavras, não está intencionalmente tentando me apavorar, mas ela se encaixa em nossa cultura por alguma razão. Claro que eu não posso ter certeza de nada disso, estas são apenas as impressões que eu tenho. "Mitchell foi assustado por esta entidade, mas nunca se sentiu ameaçado. No entanto, agora que o Arlequim estava visitando seus filhos, esse sentimento pode mudar.


A decisão
Frustrado, com medo, em pânico, desesperado, Mitchell queria respostas mais do que qualquer outra coisa. O único lugar para recebe-las definitivamente seria a partir do próprio Arlequim. "Minha única curiosidade é como teria exatamente uma conversa com ele?", Disse Mitchell. "Eu sou da opinião de que se eu fosse para sair para um passeio sozinho uma noite, eu seria capaz de chamá-lo e vê-lo, mas para ser bem honesto, o pensamento é incrivelmente assustador.", O rabino Albin disse para Mitchell para livrar-se do Arlequim, isso é o que ele precisa fazer — falar com a entidade. "Este ser está anexado a este jovem e tem sido por muito tempo", disse Albin. "Sua melhor ação seria tentar entrar em contato com o ser e descobrir o que ele quer. Ele iria colocar sua mente à vontade e poderia acabar com um amigo que ele nunca esperou." Então Mitchell fez.


O encontro no parque
Sonhos estranhos bombardearam o sono de Mitchell uma noite no final de abril de 2010; poderosos sonhos vívidos — e eles estavam dizendo algo. "Os sonhos eram tão profundos que eu senti como se eu tivesse sido chamado para estar em um determinado local, em um determinado momento, que seria esta manhã (29 de Abril de 2010), antes do nascer do sol", disse Mitchell. "Contra o meu melhor julgamento, eu decidi ir lá ao ter a impressão de que nada iria acontecer, e todo o assunto seria apenas coisa da minha cabeça na melhor das hipóteses. Eu estava profundamente errado." Mitchell saiu de sua casa antes do sol se levantar ao longo do horizonte, dirigiu até um parque com um playground perto de sua casa, e sentou-se no banco que seu sonho instruiu-o a sentar-se. Ele não estava com nada de especial junto; sem telefone celular, sem câmera, sem gravador de áudio, e sem armas. No entanto, como medida de precaução, ele gravou sua carteira de motorista na perna, no caso de sua esposa ter que identificar seus restos mortais. "É assim que eu estava preocupado antes de sair da minha casa", disse Mitchell. "Eu estava tão ansioso por este encontro que minhas mãos tremiam."
Depois de sentar-se no banco por cerca de 10 minutos, Mitchell percebeu que ele não estava sozinho. "Eu senti que eu tinha cometido um erro grave em aparecer", disse ele. "Ficou claro que a minha mente não estava suficientemente preparada para o evento." Um formigamento cresceu na parte de trás de sua cabeça como se algo quase físico estivesse empurrando-se em sua mente, algo que começou a fluir lá. "Naquele momento, ouvi distintamente uma voz dizer: "Você se lembra de quando nós costumávamos dançar e cantar juntos, Danny?'", Disse Mitchell. "O meu coração congelou, porque ficou claro que havia uma presença bem atrás do banco que eu estava sentado. Eu nunca ouvi uma voz tão incrivelmente rica, possuindo nenhuma acentuação ou defeito de qualquer espécie. Por mais agradável que possa parecer, isso não fez esta experiência parecer menos assustadora. "A coisa atrás dele era o Arlequim. "Não havia nenhuma dúvida em minha mente sobre isso", disse Mitchell. "Eu estava solidamente congelado em terror absoluto. Como eu consegui não me mijar é um mistério."
Mitchell virou a cabeça apenas um pouco e notou a forma esguia do Arlequim de pé a menos de três metros atrás dele. "Foi exatamente como eu sempre me lembrava dele, ele não era um "grey"ou qualquer outro ser do tipo", disse ele. "Era um velho ser humanoide andrógino que ainda possuía as características de uma criança, com aquele típico olhar chocado em seu rosto." Mas ao contrário do que ele sempre lembrava, ele não chamou-se de Fada dos Dentes. Ele deu a Mitchell uma dica do que ele realmente é. "Ficou claro quase imediatamente que eu entrei na mente de algo que existe muito além da humanidade, que nem mesmo em meus momentos mais profundos de desespero ou alegria espiritual, eu já experimentei nada parecido", disse Mitchell. "Ele tem uma certa natureza animal nele mesmo que ele esteja muito acima do reino animal em relação à sua autoconsciência. Estou convencido de que ele tem o potencial de destruir o mundo se ele quisesse." Mitchell não sentiu nenhuma moral humana, nenhuma simpatia humana nesta entidade antiga. "Este tipo de ser opera por um conjunto inteiramente diferente de regras, regras que transcendem a moral de uma forma que não entendemos", disse ele. "Ao mesmo tempo, como absurdo que possa parecer, havia um verdadeiro cuidado que tinha em relação a mim nesta manhã. Mesmo que eu estivesse completamente apavorado, e com vontade de gritar, 'Por favor, não me mate', correr para o meu carro, tornou-se óbvio para mim que ele sentiu uma tristeza horrível em minha resposta em relação ao que ele era. Era como se eu o tivesse rejeitado completamente."
 O encontro de Mitchell com o Arlequim durou apenas cerca de 20 minutos, mas durante essa reunião, ele descobriu que a criatura tinha sido humana uma vez, mas transcendeu a sua humanidade por vontade própria. "Foram comunicadas coisas que eu não queria saber, ou mesmo acreditar nelas. Ele revelou-me como o meu próprio ponto de vista sobre a vida, e minha confiança no tradicionalismo como uma visão do mundo, era ridícula na melhor das hipóteses", disse Mitchell. "Isso me incomoda parcialmente porque é quase como dizer que Deus não existe, que essa ideia é uma ilusão. Sinceramente isso explodia a porra da minha mente de uma forma que eu mal posso expressar."
Mitchell também teve a impressão de que existem mais Arlequins por ai, observando das sombras a humanidade, à espreita nas esquinas de nossas vidas. "Eles estão disfarçando-se como moradores de rua, tenho certeza disso", disse ele. "Eles estão se escondendo e realizando de algum tipo de missão. Digo isto porque em várias ocasiões na minha infância e na idade adulta, ele apresentou-se a mim de tal forma. Eu quero dizer que essa aparência chocada em seu rosto parece relacionada com as provações por que passou."
Mas alguma coisa sobre esta entidade que esvoaçava sobre a periferia da vida de Mitchell, algo desonesto, levava Mitchell a acreditar que ele tem sido um peão em uma grande mentira — um trabalho que ele não quer mais. "Ainda há uma grande parte de mim que considera tudo isso um engano", disse Mitchell. "Às vezes parece que quanto mais pensamos e nos debruçamos sobre as coisas, mais vida e expressão damos à essas ideias. Isso é realmente um pensamento assustador, eu acho. Neste ponto parece que eu tenho a opção de dizer "Não", e toda essa estranheza vai simplesmente acabar. "

Pelo menos, essa é a esperança de Mitchell.